O grupo de trabalho que discute a
situação de endividamento dos estados vai se reunir no dia 11 de abril para
fechar uma proposta de revisão dos contratos de refinanciamento das dívidas dos
estados assinados entre 1997 e 1998 (Lei9.494/96), que será apresentada ao ministro da Fazenda, Guido
Mantega. Os deputados vão analisar estudo que a Consultoria da Câmara está
preparando sobre o tema e que leva em consideração as propostas em
tramitação na Casa e as sugestões apresentadas pelos secretários da
Fazenda ao grupo de trabalho, durante audiência pública realizada dia 28 de
março.
O coordenador do grupo,
deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), explica que a proposta não pode impor
à União uma mudança nos contratos assinados com os estados para
não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal.”Talvez seja necessário
algum ajuste para permitir um acordo com o governo federal no sentido de
reduzir os encargos das dívidas, hoje muito superiores ao custo que a União tem
para financiar seus títulos”, ressalvou Vaccarezza.
Uma idéia
é substituir o IGP-DI pelo IPCA como índice de
correção monetária. O primeiro índice é muito influenciado pelas mudanças no
câmbio, enquanto o IPCA é mais suscetível à variação dos preços no varejo, que
impactam na arrecadação dos estados. “Assim, com o IPCA, a arrecadação dos
estados varia na mesma proporção que o índice de corrreção das dívidas”,
sustenta o coordenador.
A Lei 9.496/97 estabeleceu
como indexador desses contratos o Índice Geral de Preços – Disponibilidade
Interna (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas. Pela proposta em análise, poderá
ser adotado o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O IGP-DI é composto por
três outros índices – 60% com base no Índice de Preços no Atacado (IPA), 30%
segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e 10% pelo Índice Nacional de
Custo da Construção Civil (INCC). Já o IPCA, medido em 11 capitais, reflete a
variação dos preços das cestas de consumo das famílias com renda mensal de 1 a 40
salários mínimos.
Devido ao peso do IPA em
sua composição, o IGP-DI mostra-se mais sensível à variação cambial. Por isso,
de 1999 a 2002, esse índice permaneceu sempre acima do IPCA. Em 1999, ficou em
19,98%, contra 8,94% do índice do IBGE. Em 2002, chegou a 26,41%, enquanto o
IPCA atingiu 12,53%.
Com a valorização
progressiva do real, os índices começaram a ficar em níveis muito próximos. Em
2005 e 2006, o IGP-DI permaneceu abaixo do IPCA.
Juros menores
O grupo também estuda aplicar uma redução na taxa de juros para 2% (atualmente varia de 6% a 7,5%); e a redução do comprometimento da receita líquida real (RLR) no pagamento das parcelas (o teto atual, de 15%, poderia ser reduzido para 9%).
O grupo também estuda aplicar uma redução na taxa de juros para 2% (atualmente varia de 6% a 7,5%); e a redução do comprometimento da receita líquida real (RLR) no pagamento das parcelas (o teto atual, de 15%, poderia ser reduzido para 9%).
Vaccarezza pretende
apresentar a proposta aos governadores na audiência pública que será realizada no dia 19. Já confirmaram
presença os governadores de São Paulo (Geraldo Alckmin), Alagoas (Teotônio
Vilela Filho), Paraná (Beto Richa), Rio de Janeiro (Sérgio Cabral), Bahia
(Jaques Wagner) e Rio Grande do Norte (Rosalba Ciarlini).
Sem consenso
Em audiência no GT, o
secretário de Fazenda do Ceará, Mauro Filho, questionou a eficácia da proposta
de reduzir o limite de endividamento dos estados, proposta no âmbito do
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne secretários
estaduais de Fazenda. Ela tem o aval da maior parte dos estados, mas não é
consensual.
Os contratos fechados pelos
entes federativos com a União estabeleceram limites de comprometimento para o
pagamento da dívida, que variaram de 6,79% a 15% da RLR. Ocorre que, com o
tempo, para algumas unidades a prestação mensal tornou-se superior ao limite.
Isso faz com que esses estados só consigam pagar uma parte da dívida, gerando
um “resíduo” que alimenta o saldo devedor.
Veja tabela com a situação da dívida em cada estado.
Veja tabela com a situação da dívida em cada estado.
No caso de Minas Gerais,
por exemplo, o resíduo ao final de 2011 já somava R$ 29,1 bilhões, valor
superior ao que o estado já pagou com base no refinanciamento feito nos anos
1990 (R$ 21,5 bilhões).
Para o secretário de
Fazenda do Ceará, reduzir o comprometimento da RLR vai agravar essa situação.
No curto prazo, a prestação mensal dos estados seria menor, mas acumularia mais
resíduos no saldo devedor. “Na prática, estaríamos apenas postergando um
problema. Isso provoca e aprofunda dificuldades futuras”, afirmou Mauro Filho.
O secretário de Fazenda
mineiro, Leonardo Colombini, no entanto, é favorável a redução do teto da RLR,
por entender que isso pode dar a folga necessária para os estados ampliarem os
investimentos.
Vaccarezza reconhece o
problema, mas sugere que os estados negociem com a União para que 50% do
pagamento da dívida sejam revertidos em investimentos federais em
infraestrutura nos próprios estados.
Custo igual
Tanto Mauro Filho quanto
Colombini defenderam a revisão dos contratos com o argumento de que,
atualmente, o encargo pago pelos estados é superior ao pago pelo Tesouro
Nacional, que gerencia a dívida pública federal. Na opinião de Colombini, “o
que custa para a União deveria custar para os estados”. “Contrato é para ser revisto
quando desequilibrado”, completou.
O secretário mineiro
apresentou dados que mostram que, entre 1998 e 2011, o IGP-DI, índice de
correção dos contratos, variou 221,6%, contra uma variação de 137,3% do IPCA.
A subsecretária de Finanças
do Rio de Janeiro, Rebeca Escobar Villagra, também presente ao debate, afirmou
que todos os estados estão de comum acordo quanto à necessidade de reduzir o
peso dos encargos dos contratos.
Recentemente, segundo ela,
uma missão do Banco Mundial fez uma avaliação da dívida fluminense usando uma
metodologia conhecida internacionalmente como DeMPA (sigla em inglês para
Avaliação do Desempenho de Gestão da Dívida). Os técnicos do banco teriam
ficado impressionados com o custo do contrato de refinanciamento para os cofres
Câmara já analisa mudança
Está pronta para votação no
Plenário da Câmara proposta (PL 5879/01, do Senado) que muda a correção das
dívidas estaduais com a União. A ideia é trocar o Índice Geral de Preços (IGP)
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) como indexador dos contratos.
Essas dívidas começaram a ser contratadas em 1997.
De 1998 a 2010, o IGP variou
206,4% enquanto o IPCA oscilou 122,8%. De acordo com o relator do texto na
Comissão de Finanças e Tributação, deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), a correção
atual é excessiva: “É uma forma inadequada e incorreta de corrigir as dívidas
dos estados, que, em última instância, acabaram por contribuir com a melhoria
das finanças públicas do Tesouro. Não é justo”.
Em junho, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, acenou com a possibilidade de manter os índices atuais, mas
criar um teto para a correção que poderia ser a taxa básica de juros,
a Selic. O objetivo é justamente deter um pouco o rápido crescimento das
dívidas estaduais. Além da inflação, os contratos estaduais preveem uma taxa de
juros de 6% ao ano. (com Agência Câmara)
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